sábado, 4 de dezembro de 2010

Raciocínio débil

Caminho vagarosamente por ruas abertas olhando o céu. Procuro timidamente respostas, apesar do disfarce que um olhar profundo e uma postura fria escondem satisfatóriamente. Pareço confiante e seguro mas estou só. Para me completar ambiciono simplesmente uma cumplicidade de toque e de olhar. Sinto a falta daquele inconfundível calor no coração que nos faz ter um brilho luzidio nos olhos, um sorriso nos lábios e termos a sensação de felicidade a transbordar misturado com uma insegurança que nos fascina e nos faz sentir vivos. Falta me o cheiro a paixão, aquele odor que não sai depois de tomar banho, segue-nos e alimenta-nos o corpo durante o dia, que por sua vez espera ansiosamente por mais.

Preciso dar, entregar, desguarnecer. No entanto, no fim, fica sempre apenas a sensação de "dever cumprido", e um vazio que o esforço me obriga a manter. O "valer a pena" é assim um mero exercício relfexivo individual, ao qual dou importância diferente consoante a fase pela qual estou a passar, tal como a noção do certo e errado. É ridiculo prender-me à sensação de "dever cumprido", talvez seja para alimentar a ilusão de heroi ou principe encantado, ou apenas por cobardemente ambicionar dormir descansado à noite, sem nenhum peso na minha consciência. Mas apenas a sensação de obrigação é satisfeita, nunca a de prazer ou satisfação, por isso acabo por nunca dormir bem de qualquer das formas...

Complicado. Não vejo a hora de desatar estes pensamentos e dar uma simples laçada para andar confiante de quem sou.
Confuso. Contradigo-me e falho. Actuo e penso de formas díspares e diferentes, apesar de aparentar e promover estabilidade e segurança.
Cansado. Do mesmo, acontecimentos seguidos numa linha recta, sem pausas, os quais não consigo valorizar de uma forma justa e saudável. Não pela falta de vontade, sensibilidade ou inteligência mas pela impotência emocional de que padeço.

Mas necessito de ser assim, e desta sensação de "dever cumprido" satisfeita regularmente se procuro ser melhor, fingindo assim no entanto, ser quem não sou. Estou viciado. Grito interiormente diáriamente para não pensar e agir desta forma, mas estou preso a mim, ao que esperam, ás ideias pré-concebidas e juízos de valor que me limitam e pressionam, no passado e presente, que tatuaram a minha personalidade desta forma única e inconfundível.

Não sou feliz, sobrevivo sentimentalmente assustadoramente como um sem-abrigo que sobrevive diáriamente, procurando um espaço melhor para dormir e um pedaço de comida que simplesmente lhe conforte o estômago. Há muito vazio por preencher.

domingo, 28 de novembro de 2010

Triângulo Escaleno

Hoje o meu post tem como base 3 premissas completamente distintas que apontei nas últimas 2 semanas, que a princípio seriam ideias para posts separados, mas com receio de não ter pano suficiente para mangas isoladas, resolvi escrever por este caminho "trifurcado". Começo pelo cheiro a inverno. Dei por mim a inspirar, há uns dias, à janela da varanda, e por momentos senti-me bem, senti-me nostálgico. Tenho e tive na altura grandes dificuldades para caracterizar aquele cheiro para além das sensações, só me ocorre que era um cheiro fresco (Eureka Muras). E pensei nos cheiros em geral, talvez o olfacto seja um dos sentidos mais desvalorizados. Eu pessoalmente nunca o valorizei muito, mas ultimamente dou por mim a ter sensações fortes e positivas perante determinado cheiro. No momento em que cheirei o inverno seco e gélido, senti-me vivo, senti vontade, de criar, ser e desfrutar. Tive uma daquelas sensações que se podem descrever com cem palavras, mas no momento não pensei em nenhuma.





Em segundo lugar, o que me invadiu a mente sob a forma de divagação, ao ver uma

série, foi a fácil comoção que sinto perante actos de bondade. E não é só em séries ou filmes, até em jogos de futebol quando sou presenteado com momentos raros de fair-play evidente me emociono ligeiramente, o que pode ser considerado um bocado efeminado em algumas "culturas", noutras profusão de sensibilidade, e por fim apenas bom coração.





Encerro este post com a referência ao livro Guerra e Paz do grande Lev Tolstoi. Comemora-se agora, 100 anos desde que o escritor russo desapareceu e deixou bastante mais probre este mundo na minha humilde e suspeita opinião, pois trata-se do meu escritor preferido, tratando-se também da minha obra literária preferida entre todas as que li até hoje. Este derradeiro pensamento, surgiu ao ler a revista LER, passe a redundância, com um artigo que "celebrava" Tolstoi, e o autor do artigo escrevia com tal
paixão, que me identifiquei logo com ele. O crítico literário fez então uma sinopse acerca da obra mais emblemática de Tolstoi passando em revista algumas das personagens e momentos do livro, transportando-me para reminiscências quase
místicas. Por ser um livro (que são 4 tomos) de 1800 páginas, quase que se pode
dizer que é uma "série" se estabelecermos uma analogia da literatura
com o cinema\televisão. Portanto, e naturalmente, é um livro demorado de se
ler, mas essa demora tem pontos manifestamente positivos. Eu demorei vários
meses a acabá-lo. Durante esses meses acabei por ficar intimamente ligado às
várias personagens e nunca me custou tanto deixar um livro para trás. É um
grande livro em todas as acepções da palavra.





sábado, 20 de novembro de 2010

Sobreviver

Nada nos é dado
temos sempre de lutar
mesmo quando tudo nos é tirado.
Isto não é fácil
quando a dor não se apaga
e a Morte não nos larga.

Olhamos para bem alto
Escondemos a escuridão
“Está tudo bem!”,damos um salto
E assim nos equilibramos em vão.

A dor não te afecta
“Sorri!”e assim se finje a alegria
as emoções tornam-se numa infinita recta
e embora ria
e me esforce para todos os dias levantar
não consigo apenas chorar.

Então apercebo-me “As lembranças k tenho
não são da pessoa que sou!”
Sei de onde venho
Mas não quero saber para onde vou...

sábado, 13 de novembro de 2010

E eis senão quando...

Me encontro a olhar para o ecrã à procura de uma ideia, de um tópico, de algum fio condutor que me permita escrever um texto. Um vazio, um bloqueio de pseudo-escritor. Este vazio que dura há uns minutos desemboca numa tentativa de falar da minha relação com a escrita ao longo da minha vida. Começo por algo indissociável da escrita, a leitura.
A minha grande influência foi o meu pai, que desde que eu era pequeno insistia que eu lesse, e essa insistência durou ao longo do resto da minha vida em comum com ele. Comecei por ler livros de banda desenhada da Disney com grande avidez e durante vários anos ( sem saber precisar a idade, mas talvez entre os 8,9 anos e os 12,13). Lembro-me de gostar particularmente do Zé Carioca por jogar à bola e ser meio coirão, sentia empatia pelo azar do Pato Donald e raiva da sorte do Gastão, agradavam-me as invenções do professor Pardal. Não achava particularmente apelativos o Pateta e o Mickey, mas lia com prazer as histórias deles, gostando dos irmãos Metralha e do Mancha Negra (Já sei que o teu preferido era o Tio Patinhas $). Ao falar nestas personagens sinto uma nostalgia positiva, daquelas que não magoa nem angustia. Considero-me uma pessoa exageradamente nostálgica.
A seguir a esta fase (que terminou por influência ou do meu pai ou de algum professor, pois eu tinha que começar a ler outro tipo de livros), "aventurei-me" nos livros da colecção "Uma Aventura", lembro-me perfeitamente que os 2 primeiros livros que comprei foram : "Uma Aventura na Cidade o nº1 e Uma Aventura na Escola o nº8". Gostei bastante e antes de ter outros livros da colecção reli-os. Durante alguns anos comprei todos os livros, seguia cada livro com enorme expectativa e prazer, ainda os tenho e se não me engano tenho uns 30 e tal. Entretanto, e novamente, fui coagido a dar um salto na complexidade da literatura e abandonei a Ana Maria Magalhães, o António Fagundes e a nossa actual ministra da educação e saltei para os livros obrigatórios do ensino secundário (pelo meio ainda li um ou dois livros do clube das chaves, não me recordo se gostei ou não). A partir daí os meus hábitos de leitura foram muito irregulares e escassos e só voltaram a estabilizar por volta dos 24 anos. Mas foi sempre uma paixão, um deleite enorme, mesmo quando a ataraxia atacava, e deixava de lado as palavras impressas.
O prazer que sempre tive na leitura, levou com que o bichinho da escrita começasse a nascer e a crescer, até que se tornou num sonho, um sonho esquisito. E digo esquisito, porque a minha relação com a escrita não é nem normal, nem digna de quem a mete no mesmo saco que a palavra sonho ou objectivo. Algures a partir dos 15,16 anos eu comecei a pensar que talvez um dia poderia ser escritor, que o meu sonho profissional poderia passar por aí. Sentia um gosto tremendo pela leitura e sentia que podia ter algum jeito, alguma vocação. O sonho manteve-se bem aceso durante vários anos, até que se começou a desvanecer um pouco a partir dos 24/25 anos, apesar de continuar existente. Quando me refiro à estranheza\esquisitice, a premissa principal é a seguinte : quem sonha ser escritor, escreve, treina, esforça-se, tem prazer a escrever, e eu ao longo destes 13 ou 14 anos escrevi muito pouco, pior que isso, esforcei-me muito pouco, raríssimas foram as vezes sequer que eu me meti à frente do computador ou de um papel a tentar escrever qualquer coisa, fosse o que fosse. Quando penso nisto, eu próprio fico em dúvida, o que será? Será medo de perceber que afinal não tenho jeito ou estofo\paciência, será que sou simplesmente preguiçoso? A verdade é que chego aos 29 anos e o imobilismo tem pautado a minha vida, tenho visto as coisas passarem, e não há grito de revolta que me acorde. Vale-me a esperança, é amanhã, amanhã sim eu começo a escrever, a fazer, a actuar, ou daqui a uns dias talvez, talvez depois da passagem de ano, novo ano, vida nova. Ou então depois das férias do verão, no novo ano escolar. Um dia o amanhã acabará